sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A AMEAÇA DAS SEITAS

A AMEAÇA DAS SEITAS

A ameaça das seitas está sendo cada vez mais sentida em todo o mundo e particularmente no Brasil.

Será que estamos preparados para rechaçar as heresias que se implantam no país e crescem assustadoramente? 

O pior em todo esse esquema herético é que as seitas visam principalmente aos que possuem, ou dizem possuir, uma experiência religiosa (conversão) e já fazem parte de uma igreja; em muitos casos, infelizmente, as seitas são bem-sucedidas, principalmente entre os jovens. O sucesso das seitas tem demonstrado que os métodos educacionais de nossas igrejas precisam ser revistos; o doutrinamento precisa ser intensificado, e a dedicação dos membros da igreja, levada mais a sério. Já disse alguém que "o mapa sociológico e geográfico das seitas tende a colocar-se sobre o mapa das debilidades ou das ausências que ocorrem em nossas próprias comunidades". (1) A realidade da existência das seitas demonstra a atualidade do tema, pois as seitas "seduzem pela força de suas convicções, pela sinceridade de seu entusiasmo e pela simplicidade de sua doutrina."

1. Definindo uma Seita

O termo seita vem do substantivo latino secta e do verbo sequi, que significa seguir. A palavra grega que aparece na Bíblia é háiresis, ou seja, heresia, que, por causa da semântica, foi traduzida na Vulgata por seita. No seu sentido original significa escola ou modo de pensar e de viver que é seguido por pessoas. O sentido original, portanto, não é pejorativo, visto que o próprio cristianismo foi denominado de seita (At. 26:5). O termo aparece seis vezes no livro de Atos (5:17; 15:5; 24:5; 24:14; 26:5; 28:22), uma vez em I Coríntios (11:19), uma vez em Gálatas (5:20) e uma vez em II Pedro (2:1). Com o tempo, o termo foi adquirindo um significado negativo, ou seja, espírito sectário, ferrenho, estreito, agressivo, maquiavélico.

No tempo do apóstolo Paulo, ele escrevia ousadamente contra os movimentos sectários, que ora negavam a divindade de Cristo, ora impunham condições ao povo de Deus. Assim também acontecia com Pedro e João. Do início do cristianismo aos tempos da Idade Média surgiram movimentos sectários que os líderes da igreja ortodoxa rechaçaram com afinco e denodo.

Atualmente, quando falamos em seita estamos pensando num sistema, num grupo religioso, num agrupamento, num movimento religioso livre, que em si mesmo implica em censura. Esse grupo possui sua doutrina particular, seus próprios princípios, que diferem daqueles que dirigem o corpo de Cristo. Na realidade, nenhuma seita se considera a si mesma como tal. São igrejas e outros movimentos que a denominam assim. Juan Bosch, em Las mil y una sectas, apresenta-nos uma idéia bem interessante, pois ressalta o fato de que muitas igrejas hoje já foram em determinada época consideradas seitas. E como saber se as seitas de hoje não serão também igrejas um dia? (3) Veremos neste capítulo algumas linhas gerais que nos permitem definir mais claramente uma seita.

Levando em conta o comportamento das seitas contemporâneas, os dicionários as definem como: "grupo doutrinário ou conjunto de pessoas que professam uma crença com obstinação, divergindo da opinião pública ortodoxa, ou seja, daquela que é considerada genuína, verdadeira; seita é facção, parte, comunidade fechada, partido”.(4) Essa é uma definição do ponto de vista sociológico, através do qual podemos compreender que as seitas se apresentam organizadas socialmente de maneira oposta à igreja. Seus membros possuem crenças peculiares e se isolam do mundo. Troeltsch Ernst, em Social teachings of the christian church, (5) nos dá pelo menos três características das seitas: livre adesão, reduzido número de membros, e espírito de austeridade e ascetismo. O. de la Brasse, em seu Dicionário del cristianismo, apresenta uma comparação válida entre igreja e seita: Igreja é a "comunidade religiosa que tem como fim reunir toda a humanidade sob a mesma regra, agrupando tanto a pecadores como a santos"; seita é o "agrupamento voluntário de convertidos, limitado somente a adultos, com exclusão de pecadores, isto é, reservado somente aos que se comprometem com a lei de Deus, depois de uma experiência de conversão" (6)

Existe uma unidade entre aqueles que fazem parte do corpo de Cristo e o espírito existente entre os adeptos de uma seita. Os membros de uma seita sentem-se unidos não em torno de Jesus Cristo, mas em torno dos objetivos de sua própria corporação; podem ser até crentes em Jesus Cristo, mas na seita unem-se visando aquela comunidade em particular. Uma seita designa sempre um grupo de pessoas dirigidas por um líder ou por ensinamentos que são considerados básicos para a compreensão da Escritura Sagrada (nas seitas protestantes) ou de outra escritura, ou ainda básicos para a própria felicidade (como no caso das seitas orientais). Se algum grupo sectário, por um lado, invoca a autoridade da Bíblia ou de Jesus Cristo, por outro, negligência ou distorce a mensagem salvífica, isto é, da salvação através de Jesus Cristo, atribuindo-a aos próprios esforços. Nesse sentido podemos dizer que a verdadeira religião atribui a Deus a obra integral da salvação, e a falsa religião diz que a salvação vem do homem.

Todas as seitas distorcem a mensagem central do cristianismo por uma revelação adicional, ou por trocar um princípio fundamental da fé por um secundário, como explica Bernard Ramm: "Uma seita é um grupo religioso que coloca uma necessidade secundária na posição de uma necessidade primária. Qualquer grupo que coloque sua ênfase sobre a saúde, higiene mental ou qualquer programa político-religioso é sectário”. (7) As seitas, portanto, possuem um princípio impróprio de autoridade em relação à Bíblia Sagrada, que é a fonte verdadeira da autoridade religiosa para os seguidores de Jesus Cristo.

Para identificarmos melhor uma seita, podemos utilizar oito critérios apresentados por A. Denaux, que os toma de Kurt Keintah: (8)

1. Critério histórico - a seita é como um ramo que se corta da árvore.

2. Critério sociológico - a seita não é para todos, mas para alguns que se comprometem.

3. Critério psicológico - a seita vem remediar necessidades momentâneas e ao mesmo tempo eternas.

4. Critério jurídico — todo membro de igreja que adere a uma seita perde seus direitos como membro de sua igreja.

5. Critério eclesial – a maioria das seitas não batiza crianças.

6. Critério social – as seitas se separam radicalmente do mundo.

7. Critério missionário - as seitas não buscam não-cristãos, não evangelizam, somente praticam o proselitismo.

8. Critério bíblico - as seitas entendem que somente elas apresentam o verdadeiro significado das Escrituras Sagradas, com o auxílio de seus escritos.

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