quarta-feira, 1 de maio de 2019

#tbs110_"O que é a Aposta de Pascal?"

A Aposta de Pascal recebe o seu nome em honra do filósofo e matemático francês do século XVII, Blaise Pascal. Uma das obras mais famosas de Pascal foi o Pensées ("Pensamentos"), publicada postumamente em 1670. É neste trabalho que encontramos o que é conhecido como a Aposta de Pascal.

A essência da Aposta é que, de acordo com Pascal, não se pode chegar ao conhecimento da existência de Deus apenas pela razão, então a coisa sábia a fazer é viver sua vida como se Deus existisse porque essa vida tem tudo a ganhar e nada a perder. Se vivermos como se Deus existisse, e Ele realmente existe, ganhamos o céu. Se Ele não existe, não perdemos nada. Se, por outro lado, vivemos como se Deus não existisse e Ele realmente existe, ganhamos o inferno e castigo e perdemos o céu e a felicidade. Se alguém pesa as opções, claramente a escolha racional de viver como se Deus existisse é a melhor das possíveis escolhas. Pascal até sugeriu que alguns talvez não possam, em dado momento, ter a capacidade de acreditar em Deus. Nesse caso, deve-se viver como se tivesse fé mesmo assim. Talvez viver como se tivesse fé possa levar alguém a realmente chegar à fé.

Agora tem havido críticas ao longo dos anos em vários campos. Por exemplo, existe o argumento de revelações inconsistentes. Este argumento critica a Aposta de Pascal com base em que não há razão para limitar as escolhas ao Deus cristão. Como tem havido muitas religiões ao longo da história humana, pode haver muitos deuses potenciais. Outra crítica vem dos círculos ateus. Richard Dawkins postulou a possibilidade de um deus que possa recompensar a descrença honesta e punir a fé cega ou fingida.

Seja como for, o que deveria nos preocupar é se a Aposta de Pascal pode ou não se alinhar com a Escritura. A Aposta falha em várias contas. Em primeiro lugar, não leva em conta o argumento do apóstolo Paulo em Romanos 1 de que o conhecimento de Deus é evidente para todos, de modo que estamos sem desculpas (Romanos 1:19-20). A razão sozinha pode nos levar ao conhecimento da existência de Deus. Será um conhecimento incompleto de Deus, mas conhecimento de Deus mesmo assim. Além disso, o conhecimento de Deus é suficiente para nos tornar todos sem desculpas diante do julgamento de Deus. Todos estamos sob a ira de Deus por suprimir a verdade de Deus em injustiça.

Em segundo lugar, não há menção ao custo envolvido em seguir Jesus. No evangelho de Lucas, Jesus nos adverte duas vezes a contar os custos de se tornar seu discípulo (Lucas 9:57-62; 14:25-33). Há um custo para seguir Jesus, e não é um preço fácil de pagar. Jesus disse aos discípulos que teriam que perder suas vidas a fim de salvá-las (Mateus 10:39). Seguir Jesus traz consigo o ódio do mundo (João 15:19). A Aposta de Pascal não menciona nada disso. Como tal, reduz a fé em Cristo à mera credulidade.

Em terceiro lugar, ela deturpa completamente a depravação da natureza humana. O homem natural – aquele que não nasceu de novo pelo Espírito Santo (João 3:3) — não pode ser persuadido a uma fé salvadora em Jesus Cristo por uma análise de custo-benefício, como a Aposta de Pascal sugere. A fé é o resultado de nascer de novo e essa é uma obra divina do Espírito Santo. Isto não quer dizer que não se possa concordar com os fatos do evangelho ou mesmo ser obediente externamente à lei de Deus. Um dos pontos da parábola de Jesus dos tipos de solo (Mateus 13) é que falsas conversões serão um fato da vida até o tempo em que Cristo retornar. No entanto, o sinal da verdadeira fé salvadora é o fruto que ela produz (Mateus 7:16-20). Paulo faz o argumento de que o homem natural não pode entender as coisas de Deus (1 Coríntios 2:14). Por quê? Porque são espiritualmente discernidos. A Aposta de Pascal não menciona o necessário trabalho preliminar do Espírito para chegar ao conhecimento da fé salvadora.

Em quarto lugar e, finalmente, como uma ferramenta apologética/de evangelismo (que é a intenção original da Aposta), ela parece ser focada em uma perspectiva de risco/recompensa, o que não é consistente com uma verdadeira relação da fé salvadora em Cristo. Jesus colocou a obediência aos Seus mandamentos como prova do amor para Cristo (João 14:23). De acordo com a Aposta de Pascal, alguém está escolhendo acreditar e obedecer a Deus com base no recebimento do céu como recompensa. Isso não é para diminuir o fato de que o céu é uma recompensa e é algo que devamos antecipar e desejar. No entanto, se a nossa obediência for motivada unicamente, ou principalmente, por querer entrar no céu e evitar o inferno, a fé e a obediência se tornam um meio de alcançar o que queremos e não o resultado de um coração que renasceu em Cristo e expressa fé e obediência por amor de Cristo.

Em conclusão, a Aposta de Pascal, embora um pensamento filosófico interessante, não deve ocupar qualquer lugar no repertório evangelístico e apologético de um cristão. Os cristãos devem compartilhar e proclamar o evangelho de Jesus Cristo, que é o único "poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê..." (Romanos 1:16).

Gotq