sábado, 8 de janeiro de 2022

Foi Pedro o primeiro papa de Roma?

Todos sabem que o título "papa" é empregado para o supremo chefe da igreja católica apostólica romana. Este termo vem do grego e significa "pai". Já em latim, é formado pela junção da primeira sílaba de duas palavras: pater patrum. que quer dizer "pai dos pais". Mas o significa do que os católicos mais gostam de conferir é: Petri apostoli potestatem accipiens, isto é, "aquele que recebe autoridade do apóstolo Pedro".

Segundo a doutrina católica, o papa é o sucessor de São Pedro no governo da Igreja Universal e o vigário de Cristo na terra. Tem autoridade sobre todos os fiéis e sobre toda a hierarquia da igreja. Além da autoridade espiritual, exerce uma territorial (interrompida de 1870 a 1929), que, a partir de 1929, foi limitada ao Estado da cidade do Vaticano. É infalível quando fala em assuntos de fé e moral (ex-cathedra). Alguns títulos que o papa ostenta dão uma amostra deste exagero, a saber: Bispo de Roma, Primaz da Itália. Patriarca do Ocidente, Vigário de Jesus Cristo, Servo dos Servos de Deus, Sumo Pontifice da Igreja Universal. Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Arcebispo e Metropolita da Provincia Romana e Santo Padre.

Durante a história de sua existência, o papado teve seus altos e baixos. Recentemente, o atual papa teve de pedir desculpas aos judeus por seu antecessor, o papa Pio XII, e se vê em dificuldades com a questão do celibato. Apesar de toda esta imponência de chefe de Estado, líder espiritual da maior parcela de cristãos do mundo (1 bilhão) e administrador de um império financeiro que a cada ano acumula
bilhões de dólares, algumas perguntas precisam ser feitas. 

Existem provas bíblicas e históricas que indiquem que o papa é o sucessor do apóstolo Pedro? 

Pedro foi o primeiro papa e gozou de supremacia sobre os demais apóstolos?

 Teria Pedro fundado a igreja de Roma e transformado essa igreja na sede de seu trono episcopal? 

O alvo de nossa matéria é apresentar respostas adequadas a perguntas cruciais como essas, visto que a Internet está repleta de sites de cunho apologético católico com o intuito de refutar as verdades das Escrituras Sagradas apresentadas pelos evangélicos.

TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRAEDIFICAREIA MINHA IGREJA
Tu es Petrus et super hanc petram
aedificabo ecclesiam meam

Esse trecho de Mateus 16.18 é tão especial para os fundamentos papais que foi escrito em enormes letras douradas na cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma. Destarte, ele é a fonte mais importante de toda a dogmática' católica. A expressão Tu es Petrus, carrega atrás de si uma procissão de outras heresias erigidas em cima das interpretações de textos deslocados de seus respectivos contextos, interpretados de modo arbitrário pelos teólogos e doutores católicos romanos. É ele o genitor da infalibilidade papal, do poder temporal e dos demais desvios teológicos, contradições e distorções dessa igreja. Portanto, esclarecer à luz da Bíblia todo esse equívoco teológico é desestruturar a base em que se firma a eclesiologia católica.

OS PILARES DO PAPADO

Questionáveis pressupostos principais, a saber:

A tese católica se firma em três pilares... 

1.1. Cristo edificou a Igreja sobre Pedro, numa interpretação totalmente tendenciosa e arbitrária de Mateus 16.18.19 

1.2. Pedro fundou e dirigiu a Igreja de Roma, sendo martirizado nessa cidade.

1.3. A sucessão apostólica numa cadeia ininterrupta até nossos dias: de Pedro Karol Wojtyla (João Paulo II) Outrossim, há ainda outros argumentos apresentados pelos católicos romanos que se firmam nessa
trilogia, mas, neste momento, analisaremos apenas os já mencionados.


          PETRA VERSUS PETROS 
Ao referir-se a Pedro, Jesus em prega o termo grego Petros, que significa um seiso, pedregulho. Ao referir-se à edificação da Igreja, diz que ela seria edificada não sobre o Petros (Pedro), mas sobre a petra, um rochedo inabalável. Ora, Jesus, fez nitida diferença semasiológica entre petra e Petros. Um é substantivo feminino singular e está na terceira pessoa: o outro, masculino plural, e se encontra na segunda pessoa. Além disso, o termo petra nunca é usado na Biblia em relação a homem algum, somente em relação a Deus, Logo, tal verso nem de longe insinua alguma coisa sobre Roma, sucessão apostólica ou algo similar. Os católicos conseguem ver o que não existe no texto.

EDIFICAÇÃO SOBRE QUEM?

A declaração "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" é a chave para entendemos toda a problemática. Jesus perguntou a "todos, e não somente a Pedro, "quem Ele era". "Disse-lhes ele Jesus: E vos, quem dizeis que eu sou?" (Mt 16. 15). A ele - Pedro - foi revelado, em sua confissão, que Cristo era o Messias, o Filho de Deus, dai a frase: "Bem-aventurado es tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te diga que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja", ou seja, a igreja está edificada sobre a confissão de que Ele (Jesus) era o Filho de Deus.

A bem da vendade, a Igreja jamais poderia ser solidamente edificada sobre homem algum, nem mesmo Pedro. que, embora tenha sido um grande apóstolo, foi, no entanto, falível e passivel de erros, como demonstra, de maneira sobeja, o contexto imediato: "Ele  [Jesus], porém, voltando-se, disse a Pedro, Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens" (Mt 16.23), além de outros escritos do Novo Testamento em que podemos perceber a inconstância de Pedro (Mt 26.69-75).

QUEM É A PEDRA?

O significado de Petros e petra está em perfeita concordância com o contexto doutrinário e teológico neotestamentário. Sendo Petros um fragmento tirado da grande rocha, há de se ver uma conotação de todos os cristãos como Petros, e isto é descrito posteriormente pelo próprio Pedro: "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo" (1Pe 2.5).

Por sua vez, todas as "pedras vivas" estão edificadas sobre a grande Petra, que é Jesus: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus: edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor" (Ef 2.19-21).

Agora, comparemos o texto de Mateus 16.18 com o texto seguinte: "Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra. que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo: pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso. aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; mas. aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó" (Mt 21.42-44).

Indubitavelmente, tanto em Mateus 16.18 quanto em 21.44. Jesus é a pedra. Desde a época dos salmistas, passando pelo profeta Isaías, a palavra profética já anunciava o Messias como a pedra da esquina (Cf. SI 118.22, Is 28.16).

Igualmente, é bom lembrar que na narrativa apresentada pelo evangelista Marcos é omitida a frase de Cristo: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mc 8.27-30). Isto não é de pouca relevância, pois Marcos, por muito tempo, foi companheiro de Pedro. (1Pe 5.13) e, segundo Eusébio", foi de Pedro que Marcos coletou informações para redigir seu evangelho. Pedro, em nenhum momento, disse de si mesmo que era a rocha ou pedra da igreja, caso contrário, Marcos teria confirmado o fato de modo enfático. Se porventura o dogma da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, como ensina a Igreja Católica, não parece praticamente inconcebível que os registros de Marcos e de Lucas silenciem a respeito?