sexta-feira, 14 de março de 2014

A Lei - "Até Que Viesse o Descendente"

É óbvio que não podemos iniciar um tratamento de toda a amplitude da lei num artigo breve como este.  Já que o tema em que este artigo se encaixa é o propósito eterno de Deus, restringiremos os nossos comentários referentes à lei, ao papel que ela desempenha no grande plano de Deus.

1.  Guia.  O Antigo Testamento deixa bem claro que a lei de Moisés foi dada para guiar os filhos de Israel no caminho da justiça.  O Salmo 119 inteiro dedica-se a ensinar essa idéia.  "Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração; não praticam iniqüidade e andam nos seus caminhos" (Salmo 119:2-3). Nos discursos maravilhosos de Moisés nas planícies de Moabe (registrados em Deuteronômio), ele falou sobre os mandamentos de Deus:  "Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão:  Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.  Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?  E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?" (Deuteronômio 4:6-8). O objetivo da lei, então, era fazer o bem.  "O Senhor nos ordenou cumpríssemos todos estes estatutos . . . para o nosso pérpetuo bem" (Deuteronômio 6:24).

2.  Entendimento do caráter de Deus.  Sempre foi o desejo de Deus que seus filhos participassem de sua natureza divina (2 Pedro 1:4).  Para isso, entretanto, seus filhos tinham de conhecer o caráter do Pai.  Antes de Jesus vir e manifestar a vida que estava com o Pai (1 João 1:2), Deus manifestou na lei o seu caráter. Deus disse a Israel que, para que Deus fosse seu Deus e Israel fosse o povo de Deus, Israel teria de obedecer aos mandamentos e aos estatutos divinos.  Deus não exigia essa obediência como algo arbitrário; exigia-a porque a obediência de bom grado e com amor de sua lei por parte do povo o tornaria o tipo de povo que poderia ser o seu povo.  Mas a obediência do povo não se concretizava.  A maior parte de Israel não enxergava a lei como um guia para mostrar-lhe o caráter de Deus, o qual eles deviam imitar, e essa é a principal razão de Israel violar a sua aliança com Jeová (Jeremias 11:3-6, 10).

3.  Santidade.  A lei tinha por objetivo ensinar importantes lições ao povo de Deus.  Uma das lições era a santidade de Deus, a qualidade especial de Deus oriunda de seu caráter singular.  Não havia Deus como Jeová. Para que os homens sejam povo de Deus, devem também ser santos.  Em Levítico 18-26, pelo menos 43 vezes Deus diz:  "Faça isso porque eu sou Jeová".  O que queria dizer era:  "Serei santificado [considerado especial] no meio dos filhos de Israel:  Eu sou o Senhor, que vos santifico" (Levítico 22:32).  Enquanto permaneceu essa santidade recíproca, Deus disse:  "Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo" (Levítico 26:12).  Em Levítico, Deus também ensinou a idéia de que a purificação da contaminação acontecia por meio da limpeza, ao passo que a santidade se preservava por estar em harmonia com a vontade de Deus.  O homem é imundo quando viola a lei de Deus.

4.  Perdão.  A lei de Moisés realmente ensinava o perdão e dava condições para que ele existisse (Levítico 4:20, 26, 31, 35; 5:10, 13, 16, 18).  Quando Israel pecava, havia estipulações que tinham de cumprir para alcançarem o perdão.  Aliás, a maior lição ensinada no monte Sinai, na rebelião de Israel, foi que Deus e o homem só podem habitar juntos porque Deus é um Deus de misericórdia e está disposto a perdoar (Êxodo 32:7, 9-10; 32:30-35; 33:3; 34:9). Os sacrifícios de animais, prescritos na lei, não conseguiam, por si só, apagar a culpa do homem (Hebreus 10:4), mas a oferta daqueles sacrifícios era um ato de fé S fé na redenção que Deus prometeu.  Ainda que o Cristo só fosse visto com dificuldade na lei, a promessa de sua chegada já estava firmemente arraigada e continuava a ser mais claramente prenunciada ao longo de todo o período restante do Antigo Testamento.  A fé exercida pelo povo quando este oferecia os sacrifícios exigidos por Deus era basicamente a fé no redentor escolhido por Deus. O povo recebia o perdão quando oferecia os sacrifícios, mas havia uma dívida a ser paga por ter deixado impunes os pecados cometidos anteriormente, pela tolerância de Deus, e foi Jesus quem pagou essa dívida (Romanos 3:25).

5.  Guardião.  A lei servia de professor, na verdade de paidagogos, em geral um escravo que cuidava dos filhos de seu senhor, para contar ao pai qualquer procedimento repreensível que fosse necessário ser tratado pelo pai.  A lei era formulada por causa da transgressão, ou seja, para tratar da transgressão, ou, como afirma Robertson Nicoll:  "Para acabar com o culto aos falsos deuses, com a idolatria, com a blasfêmia, com a violação do sábado, com a desobediência aos pais, com o assassínio, com o adultério, com o roubo, com o falso testemunho, com a inveja". Para os judeus, a lei existia para conscientizá-los do pecado, do que era o pecado e para impedir-lhes de pecar. Os problemas que os judeus tinham com a lei e os problemas que os escritores do Novo Testamento tiveram de tratar não provinham da lei na forma que Deus a deu, mas originava-se na lei distorcida pelo homem, o qual buscava torná-la em algo que jamais foi ensindo por cristo.