segunda-feira, 3 de abril de 2023

Por que deveríamos recusar a canonicidade dos apócrifos, se os Concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.), que definiram até mesmo quais livros seriam canônicos e aceitos por todos os cristãos do mundo, aceitou-os?

 Os concílios de Hipona e Cartago foram pequenos “concílios” locais (que deveriam ser mais bem designados pela nomenclatura de “sínodos”, uma vez que tiveram representantes apenas locais e não houve uma convocação geral de bispos), e apesar de confirmarem a autoridade do NT como o conhecemos hoje, não foram esses concílios que o canonizaram, mas apenas confirmaram os livros já aceitos pela comunidade cristã como autênticos. Nenhum estudioso hebreu qualificado esteve presente nesses “concílios”, e até mesmo Jerônimo, tradutor da Vulgata Latina, se opôs fortemente a Agostinho, que influenciou as decisões tomadas nesses concílios. Hipona e Cartago não são considerados por nenhuma das principais vertentes do cristianismo como sendo “concílios universais” (concílios cujas decisões são universalmente aceitas pelo Catolicismo Romano, Ortodoxia Grega ou Protestantismo). Os chamados livros apócrifos foram definidos, mas não como integrantes de um segundo cânon (deuterocanônicos) no mesmo nível dos demais livros bíblicos em Cartago e Hipona. A grande prova disso é que, apesar de conhecidos há séculos pela Igreja católica e por Lutero, que inclusive os introduziu em uma seção à parte, no final de sua versão da Bíblia alemã, não foram vindicados pela Igreja católica como autenticamente inspirados diante da controvérsia com o famoso reformador alemão. Somente em Trento se definiu tais livros como integrantes de um segundo cânon igualmente inspirados.